Junho, apesar de ser o mês dos namorados, não atrai o paulista para o enlace matrimonial. Este mês, em conjunto com fevereiro e agosto, concentrou as menores proporções de casamentos legais de 2008 em São Paulo. Somente em alguns Estados da Região Norte do país (Amapá, Pará e Tocantins) junho foi o mês preferido para legalizar a união.
Estudo da Fundação Seade, com base nos registros legais de casamentos, fornecidos pelos cartórios de registro civil do Estado de São Paulo, revela que em 2008 ocorreu o maior volume de casamentos dos últimos anos. Dezembro manteve sua primazia de décadas como mês preferido pelos paulistas para oficializar o início da vida a dois, concentrando 13,1% destes eventos (Gráfico 1). Essa preferência se observa em todo o país, à exceção dos Estados da Região Norte.
Gráfico 1
Distribuição dos casamentos, segundo mês de ocorrência
Estado de São Paulo – 2000 e 2008
Fonte: Fundação Seade.
Maio, conhecido como o “mês das noivas”, desde a década de 1970 deixou de ter destaque na preferência dos casais e ocupa agora a quinta posição.
Tais preferências sofrem influência de fatores socioeconômicos, religiosos e culturais próprios de cada população. Dezembro, por exemplo, apresenta gama importante de atrativos, como as festas de fim de ano, o início das férias de verão e, principalmente, o 13º salário que ajuda nas despesas da cerimônia e na montagem do novo lar. De certa forma, o romantismo e a religiosidade vêm sendo substituídos por critérios econômicos no agendamento da união.
As uniões legais têm aumentado no Estado de São Paulo desde o início dos anos 2000. Em 2008, a taxa de nupcialidade atingiu 6,2 casamentos para cada mil habitantes, acumulando crescimento de 21% neste período (Gráfico 2). Em termos absolutos, o acréscimo foi ainda maior: 35%, ao passar de 189.488 para 255.662 casamentos, entre 2000 e 2008.
Gráfico 2
Evolução das taxas de casamento legal
Estado de São Paulo – 2000 a 2008
Fonte: Fundação Seade.
Alguns fatores concorreram para explicar esse aumento. Bons exemplos dele são as formalizações de uniões consensuais incentivadas pelo Código Civil Brasileiro, renovado em 2002, e a promoção de casamentos coletivos, que reduzem significativamente os custos da cerimônia.
Em 2008, no Estado de São Paulo, celebraram-se, em média, 700 uniões legais por dia, o que representa 181 eventos diários a mais em relação à média de 2000. Sábado foi o dia escolhido para oficializar a união por sete em cada dez casais paulistas. O segundo dia da semana na predileção foi sexta-feira (17,9%). Já domingo foi o que menos atraiu os casais, respondendo por menos de 1% dos eventos.
Os paulistas casam-se cada vez com mais idade, tendência que pode ser verificada pelo aumento na idade média ao casar, para ambos os sexos. Entre 2000 e 2008, o acréscimo foi de praticamente três anos para as mulheres – de 26,0 para 28,8 anos – e de dois anos e meio para os homens – de 29,2 para 31,6 anos.
O aumento da idade ao casar pode ser atribuído, em parte, à ocorrência de segundos casamentos, que em 2008 representaram 14% das uniões legais para os homens e 11% para as mulheres. No período analisado, verifica-se elevado crescimento de uniões de homens e de mulheres que já haviam contraído matrimônio anteriormente: 83% e 88%, respectivamente.
O segundo casamento, porém, não explica integralmente o aumento da idade dos cônjuges, pois essa tendência foi igualmente observada para os primeiros casamentos, quando os cônjuges eram solteiros. Nesse caso, a idade média também se mostrou elevada: 29 anos para os homens e 27 anos para as mulheres. O adiamento da formalização matrimonial também pode ser relacionado a outros fatores, como a maior permanência na escola, sobretudo para as mulheres, assim como a presença crescente delas no mercado de trabalho.
A caracterização dos cônjuges por faixa etária mostra que o crescimento da nupcialidade tem sido particularmente intenso entre as pessoas com mais de 40 anos. Por exemplo, em 2008, as uniões de homens com mais de 55 anos de idade aumentaram 113,5%, enquanto o acréscimo observado entre as mulheres nessa faixa etária foi ainda maior: 129,5%.
Outro aspecto a se observar é a diferença de idade entre os cônjuges. Entre os homens com mais de 55 anos que se casaram em 2008, 92,3% uniram-se a mulheres com mais de 35 anos, entre as quais 20,0% tinham entre 50 e 54 anos. Já as uniões dos homens dessa faixa etária com mulheres mais jovens (menos de 24 anos) não atingiram 1% do total de casamentos. Entre as mulheres com mais de 55 anos de idade, 74,6% se uniram a homens do mesmo grupo etário (Tabela 1).
Ou seja, na maioria dos casamentos de indivíduos com mais de 55 anos os cônjuges tinham idades próximas, com intervalo inferior a 20 anos. A participação dos casamentos com maior diferença de idades correspondeu somente a 7,7% no caso do cônjuge masculino, e a 1,7% no caso feminino.
São Paulo mantém o tradicional padrão de casamentos, em que os homens unem-se a mulheres mais jovens (67,5%). Apesar disso, verificou-se, em 2008, que um em cada quatro casamentos envolvia mulheres mais velhas que seus maridos. Nesses casos, a diferença entre as idades dos cônjuges revelou-se mais elevada que a média do total de casamentos: 7 anos, com a idade média de 36 anos para essas mulheres e de 29 anos para seus maridos.
As uniões entre mulheres mais velhas e homens mais novos talvez possa contribuir para minimizar o desequilíbrio existente no mercado matrimonial, em que a situação feminina é demograficamente desfavorável. Atualmente, a razão entre os sexos é de 92,6 homens para cada 100 mulheres, na população paulista com mais de 18 anos, o que mostra a desvantagem do sexo feminino em relação ao masculino e a relativa dificuldade de as mulheres encontrarem parceiros para efetivar suas uniões.
Tabela 1
Casamentos, segundo idade dos noivos
Estado de São Paulo – 2008
Idade do |
Idade da Mulher | Total | |||||||||||
<15 | 15-19 | 20-24 | 25-29 | 30-34 | 35-39 | 40-44 | 45-49 | 50-54 | 55-59 | 60 e + | Ignorada | ||
Total | 42 | 29.173 | 70.322 | 71.962 | 38.110 | 18.862 | 11.159 | 7.030 | 4.427 | 2.319 | 2.250 | 6 | 255.662 |
<15 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
15-19 | 14 | 4.431 | 2.159 | 442 | 107 | 20 | 12 | 3 | 1 | 0 | 0 | 0 | 7.189 |
20-24 | 21 | 16.530 | 28.067 | 9.369 | 2.117 | 526 | 141 | 37 | 11 | 4 | 1 | 1 | 56.825 |
25-29 | 6 | 6.307 | 28.796 | 32.578 | 8.650 | 1.921 | 495 | 149 | 44 | 11 | 8 | 0 | 78.965 |
30-34 | 1 | 1.404 | 8.098 | 19.930 | 13.274 | 3.924 | 1.157 | 393 | 113 | 36 | 17 | 0 | 48.347 |
35-39 | 0 | 349 | 2.106 | 6.276 | 8.025 | 5.115 | 2.002 | 724 | 223 | 54 | 27 | 1 | 24.902 |
40-44 | 0 | 95 | 698 | 2.058 | 3.343 | 3.697 | 2.696 | 1.158 | 396 | 120 | 46 | 0 | 14.307 |
45-49 | 0 | 29 | 215 | 765 | 1.480 | 1.900 | 2.100 | 1.481 | 659 | 182 | 98 | 0 | 8.909 |
50-54 | 0 | 14 | 107 | 300 | 651 | 894 | 1.206 | 1.284 | 916 | 368 | 187 | 0 | 5.927 |
55-59 | 0 | 7 | 41 | 122 | 253 | 481 | 699 | 815 | 811 | 462 | 227 | 2 | 3.920 |
60 e + | 0 | 7 | 33 | 122 | 210 | 384 | 651 | 986 | 1.253 | 1.082 | 1.639 | 0 | 6.367 |
Ignorada | 0 | 0 | 2 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 2 | 4 |
Fonte: Fundação Seade.
A situação do estado civil anterior é outra característica interessante dos casamentos paulistas. Em 2008, a maioria deles aconteceu entre pessoas solteiras. Do total de casamentos, 85,9% dos homens eram solteiros, e entre esses, 93,2% casaram-se com mulheres também solteiras e 6,2%, com divorciadas. Para as mulheres, 89,0% eram solteiras, entre as quais 89,9% casaram-se com homens igualmente solteiros e 9,3%, com divorciados. Entre os cônjuges viúvos que tornaram a se unir, cerca de 20% fizeram-no com parceiros também viúvos, proporção ligeiramente superior para o sexo feminino (22,8%) (Tabelas 2, 3 e 4).
Nos recasamentos de divorciados, a presença masculina foi maior e respondeu por 12,5% do total de casamentos legais de 2008, em comparação a 9,6% entre as mulheres. Entre os homens que se recasaram, 30,0% uniram-se a mulheres também divorciadas, enquanto 38,9% das mulheres divorciadas se casaram com homens desta mesma condição (Tabelas 2, 3 e 4).
Tabela 2
Proporção de casamentos, segundo estado civil dos noivos
Estado de São Paulo – 2008
Em porcentagem | ||||
Estado civil do homem | Estado civil da mulher | Total | ||
Solteira | Viúva | Divorciada | ||
Total | 89,0 | 1,4 | 9,6 | 100,0 |
Solteiro | 93,2 | 0,7 | 6,2 | 100,0 |
Viúvo | 44,5 | 19,8 | 35,7 | 100,0 |
Divorciado | 66,1 | 4,0 | 30,0 | 100,0 |
Fonte: Fundação Seade.
Nota: O total inclui os casamentos envolvendo pessoas com estado civil ignorado.
Tabela 3
Proporção de casamentos, segundo estado civil das noivas
Estado de São Paulo – 2008
Em porcentagem | ||||
Estado civil do homem | Estado civil da mulher | Total | ||
Solteira | Viúva | Divorciada | ||
Total | 100,0 | 100,0 | 100,0 | 100,0 |
Solteiro | 89,9 | 41,9 | 55,1 | 85,9 |
Viúvo | 0,8 | 22,8 | 6,0 | 1,6 |
Divorciado | 9,3 | 35,4 | 38,9 | 12,5 |
Fonte: Fundação Seade.
Nota: O total inclui os casamentos envolvendo pessoas com estado civil
Tabela 4
Casamentos, segundo estado civil dos nubentes
Estado de São Paulo – 2008
Estado civil | Homem | Mulher | ||
Total | % | Total | % | |
Total |
255.662 | 100,0 | 255.662 | 100,0 |
Solteiro | 219.649 | 85,9 | 227.541 | 89,0 |
Viúvo | 4.116 | 1,6 | 3.577 | 1,4 |
Divorciado | 31.889 | 12,5 | 24.537 | 9,6 |
Fonte: Fundação Seade.
Nota: O total inclui os casamentos envolvendo pessoas com estado civil ignorado.
O perfil da nupcialidade revelado pelo estudo da Fundação Seade, no Estado de São Paulo, indica importantes mudanças neste padrão nos últimos anos: houve progressivo aumento da idade média ao casar, para ambos os sexos; crescimento de segundos casamentos, sobretudo de divorciados; e diferenças entre a idade dos nubentes, em geral, inferiores a 20 anos. Para o início da vida a dois, o mês preferido foi dezembro e o dia da semana foi sábado