Atualmente, a cada ano, aproximadamente 602 mil mulheres tornam-se mães no Estado de São Paulo. Dessas, 44% vivenciam a maternidade pela primeira vez e 32% pela segunda e apenas 10% passam por esta experiência mais de quatro vezes. Estes dados fazem parte de pesquisa da Fundação Seade sobre os nascimentos ocorridos em 2008, registrados nos cartórios de registro civil de todos os municípios paulistas.
Desde as últimas décadas do século XX, tem-se verificado crescimento importante da participação das mulheres no espaço público, particularmente no mercado de trabalho, potencializado pelo rápido aumento de sua escolaridade. Estes foram alguns dos aspectos que, num contexto de mudança dos padrões de comportamento das mulheres, inclusive sexual e reprodutivo, implicaram a redução da fecundidade e do tamanho de suas famílias.
A fecundidade das paulistas diminuiu pela metade entre 1980 e 2008, quando passou de 3,4 para 1,7 filho por mulher. Este comportamento foi observado em todas as regiões do Estado, acarretando menores diferenças regionais de fecundidade em 2008 (Mapa 1).1
O DRS da Grande São Paulo registrou a maior taxa de fecundidade do Estado (1,84 filho por mulher), seguida pelos DRS da Baixada Santista (1,78) e de Registro (1,73). A maioria das regiões, principalmente aquelas concentradas na parte centro-sul do Estado, apresentou fecundidade entre 1,5 e 1,8 filho, enquanto as situadas a noroeste revelaram as menores taxas, com destaque para o DRS de São José do Rio Preto, onde se observou o menor valor deste indicador no Estado, em 2008: 1,4 filho por mulher.
Mapa 1
Número médio de filhos por mulher
Departamentos Regionais de Saúde (DRS) – 2008
Fonte: Fundação Seade.
As informações coletadas e organizadas pela Fundação Seade permitem também acompanhar a evolução da fecundidade por idade. Assim, constata-se que, no início da vida reprodutiva, quando as mulheres têm entre 15 e 19 anos, a fecundidade é relativamente baixa: em 2008, no Estado de São Paulo, ocorreram cerca de 55 nascimentos para cada mil mulheres nesta faixa etária. Naquele ano, a maioria das mulheres residentes em São Paulo que foram mães tinha entre 20 e 30 anos (aproximadamente 86 nascidos para cada mil mulheres desse grupo de idade). Nas faixas mais elevadas, a fecundidade ficou mais reduzida (Gráfico 1).
O perfil etário não é homogêneo nas regiões do Estado e, de modo geral, varia conforme características socioeconômicas: a fecundidade é rejuvenescida (elevada e concentrada em idades jovens) em grupos populacionais menos favorecidos e em áreas que os concentram, como nos DRS de Registro e Baixada Santista (Gráfico 1), enquanto naquelas em melhores condições, a fecundidade costuma ser tardia, ou seja, mais baixa entre as jovens e crescente a partir dos 20 anos, com ponto de máximo entre as mulheres de 25 a 29 anos, como em Campinas e São José do Rio Preto.
As mulheres paulistas parecem não ter preferência entre os 12 meses do ano para o momento de serem mães, a despeito da ligeira prevalência de nascimentos no primeiro semestre. Já em relação aos dias da semana e horários, a escolha diferenciada é nítida, sobretudo quando se considera o tipo de parto.
Gráfico 1
Taxas específicas de fecundidade, por idade (1)
DRS selecionados do Estado de São Paulo – 2008
Fonte: Fundação Seade.
(1) Por mil mulheres de cada grupo etário.
A ocorrência de nascimentos nos finais de semana é reduzida, em especial aos domingos (Gráfico 2). Verifica-se, também, importante diferencial nesta preferência quando se detalha o tipo de parto, em que a proporção de cesáreas neste dia é quase a metade da observada nos demais dias úteis.
Gráfico 2
Distribuição de nascidos vivos, por tipo de parto, segundo dia da semana
Estado de São Paulo – 2008
Fonte: Fundação Seade.
A distribuição dos nascimentos segundo o período do dia é também bastante diferenciada (Gráfico 3). As menores proporções são registradas na madrugada, entre 0:00 e 6:00 horas, enquanto a ocorrência durante o dia e a noite é bem maior. Ressalte-se que a proporção de partos normais superou a dos cesáreos apenas na madrugada: 21% e 7%, respectivamente.
Gráfico 3
Distribuição de nascidos vivos, por tipo de parto, segundo período do dia
Estado de São Paulo – 2008
Fonte: Fundação Seade.
A base de dados sobre nascidos vivos produzida pela Fundação Seade permite avaliar outras importantes características das mães e de seus filhos recém-nascidos e dos procedimentos médicos adotados na gravidez e no parto, bem como observar diferenciais entre regiões e municípios do Estado de São Paulo. A Tabela 1 traz os dados regionais para as variáveis apresentadas a seguir.
Idade da mãe: no Estado de São Paulo, 15,7% das mulheres que foram mães, em 2008, tinham menos de 20 anos e 29,4% possuíam de 30 a 39 anos. Esta distribuição vem se alterando desde o início do século XXI, quando tais proporções correspondiam a 19,5% e 24,0%, respectivamente. O DRS de Registro apresentou a maior parcela de mães jovens (21,9%) e o da Grande São Paulo a menor (14,4%), com destaque para a capital (13,7%). Também nestas duas últimas áreas foram registradas as maiores proporções de mães com idades entre 30 e 39 anos (31,3% e 33,0%, respectivamente), enquanto no DRS de Registro esta proporção é menor (23,2%).
Sexo: como acontecem todos os anos, nascem mais meninos que meninas, na razão aproximada de 105 nascidos vivos do sexo masculino
para 100 do sexo feminino. Em 2008, no Estado de São Paulo, esta razão foi de exatamente 105.
Raça/cor: aproximadamente três quartos dos nascimentos ocorridos no Estado são de “brancos” e 23% aparecem com a variável raça/cor “parda” ou “preta”. Esta proporção varia segundo o local de residência da mãe. No DRS de Registro, os nascimentos de raça/cor “parda” e “preta” responderam por 33% do total, enquanto no DRS de São José do Rio Preto esta participação foi de 8,3%, refletindo a composição por raça/cor da população das regiões.
Parto normal: em 2008, dos 601,9 mil partos ocorridos no Estado, 260,5 mil foram normais e 341 mil cesáreos. Apesar das diversas campanhas veiculadas em prol do parto normal, mais da metade dos nascimentos tem sido cirúrgico. Os partos normais são ainda mais raros nas regiões ao norte do Estado, como nos DRS de São José do Rio Preto, Araçatuba e Araraquara, onde a cada 100 partos, menos de 27 foram normais.
Pré-natal: aproximadamente 77% das mulheres que tiveram filhos nascidos vivos, em 2008, estiveram presentes em pelo menos sete consultas de pré-natal. Este tipo de acompanhamento, realizado ao longo da gravidez, é importante para garantir uma gestação saudável e parto seguro. Apenas no DRS de Registro a proporção correspondente foi muito inferior à média estadual (58%).
Escolaridade da mãe: observa-se importante incremento no nível de escolaridade da população em geral. Entre as mulheres que foram mães em 2008, 57% possuíam entre 8 e 11 anos de estudo, 20,7% haviam estudado entre 4 e 11 anos, 18,8% tinham alcançado mais de doze anos de estudo e apenas 3,5% possuíam baixíssima escolaridade.
As informações aqui apresentadas e disponíveis na Fundação Seade permitem conhecer a evolução do comportamento reprodutivo das mulheres paulistas, identificar seus diferenciais regionais e acompanhar as características associadas aos partos e aos nascimentos, representando subsídios importantes para avaliar e monitorar a situação da saúde reprodutiva e infantil em todo o Estado de São Paulo.
Tabela 1
Características selecionadas associadas ao nascido vivo
Departamentos Regionais de Saúde (DRS)
Estado de São Paulo – 2008
Departamentos Regionais de Saúde (DRS) | TFT (1) | Mães com menos de 20 anos (%) | Razão de sexo H/M (2) | Raça/cor branca do recém-nascido (%) | Parto normal (%) | Mães com sete consultas ou mais de pré-natal (%) | Mães com até 8 anos de estudo (%) | Mães entre 8 e 11 anos de estudo (%) |
Estado de São Paulo | 1,71 | 15,7 | 1,05 | 76,9 | 43,3 | 76,9 | 24,1 | 57,1 |
DRS 01 – Grande São Paulo | 1,84 | 14,4 | 1,05 | 69,6 | 47,8 | 73,8 | 21,9 | 58,3 |
DRS 02 – Araçatuba | 1,55 | 18,0 | 1,06 | 87,7 | 27,5 | 84,4 | 22,4 | 61,7 |
DRS 03 – Araraquara | 1,48 | 16,9 | 1,04 | 83,7 | 27,7 | 86,6 | 21,5 | 62,9 |
DRS 04 – Baixada Santista | 1,78 | 16,7 | 1,05 | 68,7 | 41,9 | 75,6 | 29,9 | 54,1 |
DRS 05 – Barretos | 1,51 | 19,5 | 1,07 | 78,9 | 23,4 | 82,1 | 25,3 | 57,3 |
DRS 06 – Bauru | 1,56 | 18,8 | 1,06 | 89,3 | 41,7 | 78,2 | 30,0 | 52,3 |
DRS 07 – Campinas | 1,61 | 14,9 | 1,06 | 81,6 | 40,0 | 82,0 | 25,3 | 56,2 |
DRS 08 – Franca | 1,67 | 17,2 | 1,04 | 78,4 | 36,1 | 75,2 | 30,7 | 52,6 |
DRS 09 – Marília | 1,49 | 18,5 | 1,05 | 90,2 | 38,0 | 83,5 | 27,3 | 56,0 |
DRS 10 – Piracicaba | 1,54 | 16,7 | 1,07 | 82,9 | 40,9 | 78,7 | 30,3 | 55,6 |
DRS 11 – Presidente Prudente | 1,49 | 18,0 | 1,05 | 84,1 | 30,2 | 77,0 | 23,0 | 54,0 |
DRS 12 – Registro | 1,73 | 21,9 | 1,08 | 66,6 | 69,5 | 58,1 | 37,0 | 53,7 |
DRS 13 – Ribeirão Preto | 1,61 | 17,1 | 1,05 | 78,8 | 40,6 | 75,3 | 31,0 | 51,0 |
DRS 14 – São João da Boa Vista | 1,44 | 17,2 | 1,07 | 89,3 | 39,0 | 80,4 | 32,0 | 50,9 |
DRS 15 – São José do Rio Preto | 1,42 | 17,0 | 1,05 | 91,6 | 21,7 | 86,7 | 24,5 | 58,2 |
DRS 16 – Sorocaba | 1,65 | 18,3 | 1,04 | 90,6 | 45,3 | 83,7 | 27,7 | 55,8 |
DRS 17 – Taubaté | 1,66 | 16,4 | 1,04 | 89,0 | 39,4 | 78,2 | 22,9 | 56,6 |